RIO DE JANEIRO: UMA VERGONHA NACIONAL

O que mais me impressiona é a capacidade do governo carioca afirmar que o caos que a cidade do Rio de Janeiro enfrenta é fruto de um período de chuvas descomunal. Alé da chuva, também recebeu culpa a formade ocupação ilegal das encostas. A culpa é portanto do povo, do clima e das encostas que, frágeis, não suportam o peso das construções. Em momento algum o governo assumiu a sua parcela de culpa no processo, fruto de anos de irresponsabilidade admistrativa e de uma crônica incapacidade de gerenciar crises e de projetar o futuro com ações que pudessem minimizar a dor que tantos sentem dentro e fora do Rio de Janeiro.
A primeira onda de transformações pela qual a cidade passou estava diretamente relacionada com o processo de libertação dos escravos no Brasil. Durante 38 anos o Brasil foi, paulatinamente, dificultando o comércio de escravos e libertando outros. Inicialmente influenciado por pressões inglesas, fruto da legislação de Bill Alberdeen que impedia o tráfico negreiro pelo Atlântico, o Brasil cria a Lei Eusébio de Queiroz em 1859. Essa lei proibia tráfico negreiro no Brasil e seu consequente comércio. Em 1871 a Lei do Ventre Livre foi um duro golpe na realidade do trabalho no Brasil. Os filhos e filhas de escravas nascidos (as) após a lei, seria considerado livre. No ano de 1885, a Lei Saraiva-Cotegipe, também conhecida como Lei do Sexagenário, libertou os escravos com mais de 65 anos. Uma irrealidade no contexto do Brasil, pois praticamente a lei não alterou profundamente as relações sociais no país. Na realidade poucos escravos com essa idade ainda estavam nas fazendas, com 65 anos de idade era pouco provável que pudesse desfrutar de algum benefício com essa lei. O golpe final nesse longo processo veio no ano de 1888 com a Lei Áurea. Uma lei que funcionou mais como um ato simbólico do que prático, pos na realidade apenas colocou fim na relação social pautada pelo escravismo. Não foi além disso, ou seja, não criou instrumentos de emancipação do negro ex-escravo pautados na autonomia e na sua integração econômica. Eles não foram integrados à economia e nem muito menos à cidade. Marginalizou-se em periferias ou em regiões próximas às mais abastadas, nas encostas de morros. Lá criaram uma cultura, uma identidade ou como se autodenominam, comunidades.
Como se não bastasse esse cruel processo de formatação de uma população margilalizada, a cidade do Rio vem sofrendo com mais perdas desde a década de 1950. Naquela década perdeu o título de ser a capital federal do país, transferida que foi para o planalto central. A perda da capital não veio acompanhada com nenhuma compensação do ponto de vista de reestruturação do espaço urbano ou de investimentos que pudessem compensar a migração de servidores públicos que, a partir daquela data, não mais injetariam seus salários na economia do Estado.
A cidade sofrerá pressões durante esses anos que a separa das olimpíadas. Espero que ela possa encontrar nesse momento o seu ponto de mutação. Que siga o exemplo de outros centros urbanos que se transformaram durante o período das olimpíadas. Nossa torcida é para o rio e pela responsabilização  dos admistradores geradores desse caos social.


Rodrigo Alberto Toledo
Doutorando em Sociologia com período sanduíche na Universidade de Salamanca, USAL, Instituto Iberoamerica e Centro de Estudos Brasileiros, tendo como objeto de pesquisa o processo de planejamento urbano da cidade de Araraquara e sua relação com a FAU-USP e processos participativos na formulação de políticas públicas urbanas. Tem Mestrado Acadêmico em Sociologia e Especialização em Gestão Pública e Gerência de Cidades (2001) pela UNESP-FCLAr-PPG. Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Sociais pela UNESP-FCLAr. Foi presidente da ONG Araraquara Viva e coordenou inúmeros projetos socioambientais que foram aprovados pelo Ministério da Cultura, Lei Rouanet. É bolsista do programa CAPES.

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