Sinfônica Orquestra

A noite parecia perfeita, só faltava-nos um acontecimento para que ela se tornasse inesquecível. Toda a potencialidade humana, rigor, organização e sentimentos são colocados à prova numa apresentação de uma sinfônica. Segunda-feira, a praça abarrotada de gente disputando cadeiras insuficientemente. Um espetáculo que, diziam os organizadores, seria para o povo. Oportunidade nobre para entrar em contato com uma proposta interessante de difusão cultural. Mas também é um momento para que as vaidades humanas se mostrem. Logo de fronte ao palco, cadeiras aspaçadamente dispostas aguardavam ansiosamente as autoridades que não compareceram. Muitas cadeiras dispostas, vazias diante de olhos sedentos por cultura e por um assento.


A beleza do espetáculo não foi ofuscada por essa discriminação social, por outro lado a separação entre o povo e as autoridades deixam transparecer as verdades mais significativas e obscuras de uma sociedade marcada pelo patriarcalismo, pelo corporativismo, pelo clientelismo e pelo pequeno poder. O espetáculo estava belo, mas a imagem daquelas cadeiras esperando por suas autoridades contrastava uma realidade muito difícil de ser digerida. O despropósito dessa cena compromete qualquer iniciativa nobre de difundir cultura. Na realidade creio que também é uma oportunidade de mostrar para todos os cidadãos comuns (leiam, que não são autoridades, mas que autorizam o exercício do poder) que a sociedade é marcada pelos que detém o status de cidadão autorizado e aqueles que recebem a apresentação de uma orquestra como se fosse uma esmola. Somos, verdadeiramente, mendigos culturais cooptados pelo sistema político-social-cultural da sociedade capitalista.


Rodrigo Alberto Toledo
Doutorando em Sociologia com período sanduíche na Universidade de Salamanca, USAL, Instituto Iberoamerica e Centro de Estudos Brasileiros, tendo como objeto de pesquisa o processo de planejamento urbano da cidade de Araraquara e sua relação com a FAU-USP e processos participativos na formulação de políticas públicas urbanas. Tem Mestrado Acadêmico em Sociologia e Especialização em Gestão Pública e Gerência de Cidades (2001) pela UNESP-FCLAr-PPG. Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Sociais pela UNESP-FCLAr. Foi presidente da ONG Araraquara Viva e coordenou inúmeros projetos socioambientais que foram aprovados pelo Ministério da Cultura, Lei Rouanet. É bolsista do programa CAPES.

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