Por que o presidente Sarney é qualquer pessoa?

José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu na cidade de Pinheiro, Maranhão, em 24 de abril de 1930. Adotou o nome de Sarney em homenagem ao pai, Sarney de Araújo Costa. Formado em direito em 1954, ingressou na política como suplente do deputado federal pela UDN (União Democrática Nacional). Sarney se opôs ao golpe militar de 1964, mas com o passar dos anos acaba se aliando à Arena, Aliança Libertadora Nacional, o partido da situação. Governou o Maranhão (1966-1971) e cumpriu dois mandatos como senador (1971-1985), tornando-se um dos principais representantes políticos do regime militar. Em 1979, após o fim do bipartidarismo ajudou a fundar o PDS, Partido da Democrático Social que lançou Paulo Maluf nas eleições indiretas de 1985.

Sai candidato a Vice-Presidente em 1985 e, juntamente com Tancredo Neves, vence essas eleições. Tancredo falece antes de tomar posse e Sarney se transforma no primeito presidente civil em 21 anos (1964-1985).

O período de governo de Sarney foi marcado por medidas econômicas de combate à inflação e pelo estabelecimento de um novo ordenamento jurídico para o país, ou seja uma nova Constituição. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Carta, considerada a mais democrática da história brasileira, estabeleceu eleições diretas em dois turnos para presidente, governador e prefeito. Sarney implantou uma série de planos econômicos com o objetivo de erradicar a inflação. Na verdade, transformou a economia brasileira em um imenso laboratório para testar as políticas econômicas de controle inflacionário elaboradas, em certa medida, pelo FMI. Todas, entretando, se mostraram ineficazes.

Em que pesem essas interferências de Sarney na vida pública, sua outra biografia de grande investidor agrário, o vincula diretamente às forças mais tradicionais e, portanto, conservadoras da sociedade brasileira. Um tipo de personagem político que tem sua origem em uma época em que ser político significava estar acima das leis. Um tipo de político que realmente entende que não faz parte do universo mortal de todo brasileiro que vive sob a égide do Estado de Direito. O que mais incomoda, decepciona e faz regredirmos cerca de 100 anos na nossa história política é o comportamento do atual presidente Lula que, tributário à essa concepção política, cria dois patamares para o exercício da cidadania. O primeiro, esse ao qual o presidente Sarney acha-se incluído. E o segundo, o universo complexo, angustiante e aterrador que compõe o universo de milhões de brasileiros. O presidente Lula tenta, do exterior, amenizar e mostrar o traço mais característio da política brasileira: Sarney não poderia ser considerado uma pessoa comum, pois é um político da república velha.

Rodrigo Alberto Toledo

Doutorando em Sociologia com período sanduíche na Universidade de Salamanca, USAL, Instituto Iberoamerica e Centro de Estudos Brasileiros, tendo como objeto de pesquisa o processo de planejamento urbano da cidade de Araraquara e sua relação com a FAU-USP e processos participativos na formulação de políticas públicas urbanas. Tem Mestrado Acadêmico em Sociologia e Especialização em Gestão Pública e Gerência de Cidades (2001) pela UNESP-FCLAr-PPG. Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Sociais pela UNESP-FCLAr. Foi presidente da ONG Araraquara Viva e coordenou inúmeros projetos socioambientais que foram aprovados pelo Ministério da Cultura, Lei Rouanet. É bolsista do programa CAPES.